~ …você terá três textos no final ― se contar a versão original, 4 textos no total ~
ERA UMA VEZ, uma jovem estudante de jornalismo {eu} que trabalhava como estagiária em comunicação interna. O serviço dela era produzir matérias para a intranet da empresa.
Apesar de não ser focada na área de comunicação, esse era um setor muito bem estruturado. Contando, inclusive, com uma equipe de revisão que avaliava todo o material escrito que era produzido ― algo que hoje, infelizmente, é raro; a maioria das empresas “fundiram” essa função com outras atividades e setores.
Maria* era a revisora que costumava receber e fazer as correções na maioria dos textos da nossa amiga estagiária. A rotina não costumava mudar: a estagiária produzia o texto, enviava para revisão e costumava receber os ajustes no dia seguinte, conferia e publicava no site interno da empresa.
Um dia, Maria não estava. E justo nesse dia {situações atípicas parecem para-raios atraindo mais situações atípicas}, surgiu um assunto urgente para a estagiária escrever um texto e publicar naquela mesma tarde.
Ela escreveu depressa, anexou o arquivo no e-mail, clicou em enviar e ligou para o pessoal da revisão para avisar sobre a urgência. E foi João* que atendeu o telefone, ele também era da equipe de revisão e combinou de dar uma olhada no texto e entregar o quanto antes. Quase uma hora depois, a estagiária recebeu “o texto pronto”.
Foi só o tempo de acessar a plataforma de publicação, copiar os parágrafos, formatar as palavras em negrito e itálico e acrescentar as imagens. Enquanto finalizava, uma nova mensagem de e-mail chegou. Era de Joana*, outra pessoa que fazia parte do setor de revisão. Joana tinha revisado o texto e as correções eram diferentes.
“Devem ter corrigido depressa antes e deixado passar algumas coisas”, imaginou. Então, a estagiária, considerou a revisão de Joana e publicou o último texto corrigido.
A matéria foi publicada no prazo! O pessoal leu, curtiu, comentou. “Está tudo certo, então”, pensou a jovem no fim do expediente.
No dia seguinte, quando chegou ao trabalho, a estagiária abriu sua caixa de entrada e viu uma nova mensagem de Maria, enviada naquela manhã. No e-mail, ela dizia:
“Bom dia, Andressa
vi que você publicou ontem a matéria sem revisão. Então, eu editei a publicação com as correções.”
Naquele dia, eu ― a então estagiária de jornalismo ― entendi que revisão também envolve gosto e estilo pessoal. As três revisões que eu recebi estavam certas em questão de gramática. Mesmo estando muito diferentes, nenhuma delas estava errada. E era por isso que meu chefe sempre me dizia, “você não precisa aceitar todos os ajustes que o pessoal da revisão faz”.
Claro, a revisão envolve também a padronização de linguagem e estilo da empresa {ou do meio de comunicação, do grupo, da editora, enfim…}. Mas até dentro desse padrão de estilo, eu recebi três versões diferentes de um mesmo texto. Dava para perceber, também, que naquele dia houve uma falha de comunicação e cada um deles revisou o meu texto sem avisar para os outros. Mas a experiência valeu! Fez com que eu perdesse parte da insegurança com relação aos “erros” apontados nos meus textos e me inspirou ainda mais respeito e cuidado em revisar a escrita de outras pessoas ― uma base essencial no meu trabalho hoje.
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⚠ Detalhe importante:
* Maria, João e Joana são nomes fictícios para não expor as pessoas. Reforçando, nenhuma das revisões que recebi estavam erradas. Elas estavam MUITO diferentes, sim. Mas as diferenças nas correções só refletiram as diferenças nos estilos e gostos das pessoas que revisaram.
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