UMA VEZ, um dos meus professores de redação falou: “sempre vai ter alguém melhor do que você”. Eu entendi e no mesmo segundo concordei. Sempre iria ter uma pessoa que sabe mais, com mais experiência, com melhores condições, que fez mais cursos, que estudou em escolas melhores, que sabe mais idiomas, que conhece mais… Achei que a frase era uma verdade e que valia guardar em mim pra me manter “com os pés no chão” e me motivar a continuar estudando.
Nunca esqueci essa frase, ela realmente me acompanhou e ecoou em vários momentos na minha mente. Mas, recentemente, mais de dez anos depois de ter ouvido na sala de aula, eu senti um incômodo, algo fora do lugar que me fez questionar essa afirmação.
Acreditar que “sempre vai ter alguém melhor” se tornou uma crença que alimentou a minha insegurança, ansiedade e medo. Eu ouvi, aceitei e cultivei uma crença que achei ser construtiva, mas que na realidade, por todo o tempo, me deixou presa num lugar de incertezas sobre o que aprendia, o que desenvolvia, o que oferecia… tudo precisava ser melhorado e nada parecia suficiente e bom o bastante. Quantas crenças a gente nutre por acreditar que elas fazem bem e são inspiradoras?
Estamos em eterna evolução. Tudo pode, sim, ser aprimorado; estamos em movimento e em constante mudanças, acessando novos conhecimentos e nos deixando transformar por eles. Mas para ser “melhor” é preciso que os objetos de comparação tenham semelhanças. E se tratando de seres vivos ― principalmente, se tratando de seres humanos ― a comparação é extremamente injusta. Somos complexamente únicos! Somos tão cheios de nuances, subjetividades e histórias diferentes que Saint Exuperry escreveu, no livro Terra dos Homens, que “quando um homem morre, um mundo também deixa de existir”.
Nunca terá alguém melhor do que você! Pura e simplesmente porque você é um ser único. O mundo da competitividade é enganador, ele nos destrói e nos desumaniza: nos trata como peças frias, comparando, rankeando e nos substituindo pelas peças mais modernas, mais rápidas e mais baratas.
Nunca terá alguém melhor do que você! Porque a Terra não é melhor que o Fogo, a Água não é melhor que o Ar. A água doce não é melhor que a salgada. A areia do deserto não é melhor do que a da praia. As coisas são o que são. As pessoas são o que são.
Nunca terá alguém melhor do que você! Não é arrogância, não é “se achar”. É reconhecer todos os seus processos e honrar a sua história e as suas buscas.
Nunca terá alguém melhor do que eu. Nunca terá alguém com as mesmas preocupações, com o mesmo sentir, a mesma história, a mesma missão, a mesma energia, o mesmo processo.
Só eu senti e encarei os meus medos. Só eu aprendi as minhas lições, vivenciei as minhas experiências, senti as minhas dores, dediquei o meu tempo, entreguei o meu esforço. Só eu vago e exploro o meu mundo, sinto o meu sentir. Só eu sigo dedicando e entregando o meu melhor deste presente pra que uma versão mais aprimorada de mim possa surgir e minha alma evoluir. Só eu tenho e trabalho a minha energia.
Eu não sou a mais inteligente, a mais desperta, a mais bem sucedida, a melhor profissional, a mais influente, a mais focada, a mais ou a melhor qualquer coisa do mundo. Eu sou a melhor que posso ser hoje, no meu mundinho, no que faço, no que ofereço e no meu processo e caminhada de aprendiz.
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{texto produzido com a escrita intuitiva}