~ A câmera entrega a falta de interesse e a mensagem revela a indiferença ~
ALÉM DE maior presença no mundo online, o isolamento parece ter apurado ainda mais o nosso desejo de pertencimento a um grupo e conexão com as pessoas atrás das telas.
Foram tantos dias de relações intermediadas por aparelhos, serviços de telecomunicação e aplicativos tentando trazer para perto e nos manter juntos, que vieram as ondas de lives; chamadas por vídeo se tornaram corriqueiras; e o tempo online foi ficando cada vez maior.
Mas todos esses aparatos só evidenciaram como é preciso mais do que equipamentos e tecnologia para aproximas pessoas.
Não basta só ler as mensagens, ouvir a voz e ligar a câmera. A gente percebeu que a frieza dos aparelhos evidencia a distância emocional, a falta de clareza, de paciência, de empatia, de respeito pelo tempo e pelas questões do outro.
Para aqueles que ainda não tinham aprendido ― ou percebido ― essa comunicação virtual (em tempo quase que integral) trouxe para a luz o fato de que é preciso esforço, interesse e sinceridade de todos os envolvidos para construir e manter um relacionamento. A câmera captura a falta de interesse, o microfone pega a impaciência e as mensagens revelam a indiferença. E isso acontece tanto nos relacionamentos pessoais à base de conveniências, disputas e comodismos; como também nas relações com as empresas que só querem aumentar o número de vendas e com os influencers que só procuram disparar o engajamento.
Assim como a falta de um dos sentidos faz com que os outros fiquem muito mais apurados, a falta do contato físico aumentou nossa atenção pelo quê é falado e pelo como a comunicação é feita. Em maior ou menor grau, todos estamos mais criteriosos (e alguns até mais sensíveis) para escolher as conversas, as interações e os conteúdos, serviços e produtos para consumir.
Cada vez mais as pessoas estão buscando não só a praticidade mas, também, a identificação e a conexão com quem elas compram e consomem conteúdo.
Todos temos consciência dos desafios e complexidades dos tempos atuais. Sobre isso, não há nada que eu possa escrever aqui que você, que me lê agora, já não saiba. Mas a gente tem a tendência de achar que todos estão em condições iguais de acesso à informação e condições de consumo. E, por isso, é bom relembrar que muitos estão vivendo no modo sobrevivência diante de tantas dificuldades e limitações. Sabemos que não são todos que estão em condições de escolher o quê nem muito menos de quem comprar.
Os que podem, e estão conscientes para escolher por produtos, marcas e empresas, tendem a buscar consumir de quem constrói uma relação de confiança e proximidade com o seu público, de quem se posiciona e se comunica de maneira humanizada, de quem tem ação de responsabilidade, sensibilidade e inspiração. As pessoas buscam cada vez mais pelas pessoas que se deixam transparecer nas telas e dão aquela sensação de que estão logo ali, pertinho da gente.
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{texto publicado no Linkedin, em maio de 2021. Para ler e visualizar a publicação, clique aqui.}